Sobre mudar o próprio destino

No Dia Internacional da Mulher, quero contar a história de uma mulher que muito me inspira.

A história é longa e daria um livro, mas, para este texto não ficar longo e você desistir de ler, vou resumir e focar, principalmente, na trajetória profissional desta mulher. Com uma alma empreendedora, muita vontade de vencer e um claro dom para vendas, ela foi à luta e mudou o próprio destino. Seu nome: Rosely. 

A INFÂNCIA, A PADARIA E AS FINANÇAS

Nascida em uma família simples e grande (eram nove filhos ao todo, sendo cinco mulheres e quatro homens), Rosely conheceu o significado de trabalho muito cedo. Aos 13 anos, já trabalhava na padaria de seus primos para ajudar em casa. Aos 15, seu pai montou a própria padaria e escolheu ela para ajudar na administração, cuidando da gestão e das finanças.

 “Mesmo tendo vários filhos homens, meu pai não era machista. Ele confiava em mim e decidiu que eu ficaria no caixa, cuidaria das compras e das finanças como um todo”, conta.

Foi assim até os seus 22 anos. Ela acordava às 5h da manhã para trabalhar na padaria e chegava em casa por volta de 0h, já que estudava no período noturno.

O CASAMENTO, O MAGISTÉRIO, A MATERNIDADE

Na época, o curso de magistério, um tipo de formação de professores integrada ao ensino médio, era bastante popular.  Como gostava de estudar e também de ensinar, Rosely optou por este curso. No mesmo ano em que se formou, aos 22 anos, ela também se casou e deixou a padaria.

Na época, seu marido era dono de uma pequena farmácia no bairro, e ela começou a lecionar para alunos de 1ª a 4ª série. “Dei aulas durante dois anos. Eu amava poder contribuir com a educação daquelas crianças, mas, quando tive a primeira filha, aos 24, não tinha confiança para deixá-la com outra pessoa o dia todo e ir trabalhar longe, por isso desisti de ser professora e fui em busca de algo que me desse a liberdade de estar mais perto dela”, conta.

O INÍCIO NO RAMO DE VENDAS

Foi então que, de supetão e por necessidade, iniciou sua jornada no ramo de vendas. Ela buscava roupas na confecção de sua prima e saía para vender as peças, além de produtos da marca Natura. “Primeiro, eu alimentava e cuidava da minha filha e, enquanto ela tirava a soneca da tarde, eu deixava ela com uma ajudante por algumas horinhas e saía para vender. Era o tempo dela acordar e eu já retornava”, conta. 

Carregando uma sacola cheia de roupas, ela oferecia roupas e produtos de beleza nas empresas e casas de amigos e conhecidos. “Lembro que meus braços ficavam marcados de carregar o peso da sacola na rua e no ônibus, já que na época eu não tinha carteira de motorista e muito menos carro. Mas descobri que era boa de vendas e fazia até um bom dinheiro na época”, recorda.

A vocação para vendas e o espírito de luta, segundo ela, foram herdados da própria mãe, que encomendava centenas de pacotes de panos de pratos e camisolas do interior para vender na cidade.

 

“Ela sempre lutou muito. Houve um tempo em que ela trabalhava em um hospital de deficientes mentais e era bem difícil. Ela ganhava fruta no trabalho e não comia pra dar pra gente. Lembro dela chegando e nos acordando de madrugada, dividindo uma maçã para os nove filhos”, conta. 

 

O amor materno incondicional é, sem dúvidas, outra característica que Rosely herdou de sua mãe. Aos 29 anos, já mãe de três filhos, assumiu seu talento para vendas e montou a própria loja de confecções e presentes. O comércio era ao lado de casa, pois ser uma mãe presente sempre foi uma prioridade para ela.

A loja estava indo bem e foi até ampliada, mas problemas pessoais a fizeram desistir de continuar. “A loja durou cerca de três anos, mas além de problemas pessoais que tive, minha irmã, que era minha ajudante na época, resolveu sair, então fechei o comércio”, diz.

O INSIGHT QUE MUDOU TUDO

Até que, durante uma viagem, no ano de 1998, ela teve um insight: “O que posso vender que eu não precise comprar?” A resposta veio e, ao retornar da viagem, foi logo fazer um curso e tirou seu registro no CRECI (Conselho Regional de Corretores de Imóveis) para poder atuar como Corretora de Imóveis.

 

“Tive que atrasar algumas contas para pagar o curso, não foi fácil. Mas foi a melhor decisão que tomei em toda minha vida.”

Com o registro de corretora em mãos, bateu nas portas de uma imobiliária do seu bairro e pediu uma oportunidade. Lá, ela rapidamente aprendeu tudo que se espera de um bom corretor de imóveis. Técnicas de venda e atendimento, processos de financiamento, negociação, entender sobre localização, despachante e direito imobiliário e muito mais.

“Eu não queria ser uma corretora cuja única função era trazer o vendedor e o comprador para que o dono da imobiliária desse conta do resto. Eu queria fazer mais do que promover o encontro da venda, eu atuava diretamente nas negociações e fazia a venda acontecer”, conta.

 

Com muita dedicação e um talento nato para vendas, ela logo foi destaque como profissional, em um mercado machista, numa empresa em que ela era a única mulher além da secretária.

 

“Eu sentia que incomodava alguns homens da empresa por estar me destacando, mas eu ignorava isso e continuava dando meu melhor em tudo. Até limpar o banheiro eu limpava, fazia o café, varria o chão quando precisasse, afinal a empresa não pagava faxineira e eu não tinha medo de trabalho.”

 

Seu nome rapidamente ganhou respeito e, apesar de ter sido chamada para trabalhar em grandes imobiliárias da capital, ela negou, pois não abria mão de estar perto dos filhos, podendo buscá-los na escola, almoçar com eles e etc.

O SUCESSO

Assim, em 2002, aos 38 anos, Rosely deu um passo corajoso e, mesmo com medo e frio na barriga, decidiu abrir a sua própria imobiliária. “Eu me vi estagnada, não tinha mais o que aprender ali, eu já havia dominado todos os processos envolvidos no ramo e percebi que precisava arriscar, ainda que eu quebrasse a cara, mas precisava arriscar”, diz.

Hoje, quase 20 anos depois, em um mercado competitivo e, muitas vezes, ingrato, sua imobiliária, a Stuart Imóveis, segue firme e é referência na região da Pampulha, em Belo Horizonte(MG). A maior parte dos clientes é fruto de indicação e do retorno de clientes antigos e satisfeitos.

 

“Encontrei algo que amo fazer e ainda posso ajudar pessoas. Por mais clichê que pareça dizer isso, vender imóveis é realizar sonhos. Já atendi clientes que achavam que não conseguiriam adquirir o imóvel próprio, mas com toda consultoria e orientação nos mínimos detalhes, foi possível”, conta. 

 

Eu poderia dar diversos exemplos dos negócios inimagináveis que ela facilitou, mas isso é papo para outro texto.

Para fechar o texto, preciso dizer: essa mulher é a minha mãe e eu morro de orgulho dela. Graças a toda sua garra e vontade de vencer, eu tive privilégios que muitos não tiveram, como estudar em uma boa escola, frequentar aulas de inglês e ir à universidade. Ela mudou não só o destino dela, mas também o meu e de muita gente da nossa família.

E é claro que esse resumo não conta nem um terço de todos os desafios e dificuldades desta trajetória. Hoje, com 29 anos, vejo como minhas preocupações são pequenas se comparadas às que minha mãe tinha na mesma época, já com três filhos para sustentar.

Ela, que não foi a faculdade e abriu mão de tanta coisa por nós, foi à luta e alcançou seu lugar ao sol, ganhando respeito e notoriedade no que faz.

Inteligente, batalhadora, determinada e criadora do próprio destino.

Essa é a mulher que almejo ser e essa é a grande mulher que eu gostaria de homenagear no dia de hoje.

Espero que, de alguma forma, essa história te inspire também e você acredite que, com persistência, dedicação e vontade, você pode o que você quiser. 

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