É o ‘se’ que me perturba.

É o SE que me incomoda, atormenta, perturba. Quando estou mal, é o SE que me faz pensar como seria se ele estivesse aqui para me fazer rir. Quando estou bem, é o SE que me faz fantasiar como seria se ele estivesse aqui, para viver esse momento comigo. É o SE que me persegue, me maltrata, me ilude.

E se. E se tudo tivesse se saído como eu imaginava? E se ele nunca tivesse partido? E se ele tivesse surpreendido a todos os médicos e vencido a doença? Que profissão teria escolhido? Difícil saber, tantas eram as suas habilidades…Biologia, Informática, matemática.  Que homem ele teria se tornado? Sem dúvidas, um grande homem, um verdadeiro gentleman. Mas qual seria a sua versão adulta? Quais seriam as suas escolhas? E se eu pudesse saber disso tudo?

E se. E se eu tivesse aberto meu coração? E se aquele antigo relacionamento tivesse dado certo? E se nossos caminhos tivessem se cruzado novamente? E se eu tivesse convertido meus desejos em ações? Como eu estaria hoje? E se eu tivesse sido aprovada naquele teste? Onde eu estaria agora? E se eu tivesse me esforçado mais? Se eu tivesse sido mais gentil? E se eu tivesse dito não? E se eu tivesse persistido até conseguir? E se eu tivesse feito as malas e ido embora? Quem estaria ao meu lado agora? E se eu tivesse tido coragem de lutar? E se eu tivesse virado à esquerda ao invés da direita?

E se. E se. Sei que o ‘se’, de fato, não existe. Sei que ele é uma mera conjunção condicional que nada nos diz, só nos faz lamentar, devanear, fantasiar o que poderia ter SIDO e não foi.  O SE é uma maneira [em vão] que a gente acha de questionar os rumos que as coisas tomaram. O SE é um desejo incontrolável de mudar o presente, de manipular o tempo e os fatos com as próprias mãos, de enxergar um momento que, na verdade, nunca existirá.

E se. O SE é chato, não nos move, não nos tira do lugar. O SE é triste de qualquer forma, pois sempre pressupõe inconformismo, insatisfação, arrependimento. Mas o pior SE não é aquele que independia de nossa atitude para ter sido fato concreto, esse é culpa do acaso, das circunstâncias da vida, da vontade de Deus.

Enfim. O SE que dói mais é aquele que poderia e não foi, por nossa única e exclusiva culpa. É aquele que pesa sobre nós, que nos cobra, que nos lembra de nossa covardia, nossa imobilidade, nossos erros, nossos maus passos. Mas, assim como todo e qualquer SE, ele de nada serve, a não ser para martelar nossa mente com o imutável. Quer saber, e se eu tentasse parar de questionar tanto a vida e deletasse de vez o SE do meu vocabulário? Talvez, se eu fizesse isso, a vida seria mais fácil.

Por Renata Stuart

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