Eleições 2022: luta contra o ódio e o retrocesso

Quem me conheceu no passado sabe que nunca fui petista. Não por raiva do partido ou do Lula, mas por nem sequer saber quais eram meus ideais políticos. Por muitos anos, eu fui completamente alheia à política e não me envergonho de dizer isso. A gente evolui, aprende e se expande. Ainda bem.

Em 2013, eu fui às ruas nas manifestações históricas que tomaram diversas capitais brasileiras, contra o aumento das tarifas dos transportes, e a favor de mais investimentos em saúde e educação. Então, sim, eu sempre me revoltei e sempre me indignei. Mas a verdade é que eu não sabia qual era meu lado. Na verdade, eu não sabia qual era meu espaço como mulher nessa sociedade e nem procurava entender a fundo à base de que esse país foi construído.

Eu passei a entender meu lado de maneira precisa e assertiva quando vi o exemplo do que eu claramente não era: Bolsonaro. Foi a figura dele e tudo que ele representa que me fez mergulhar fundo nos meus valores e, enfim, saber definir meus ideais políticos.

Foi em 2018, quando estive diante da terrível possibilidade de ter Bolsonaro como presidente, que votei no PT pela primeira vez. Não olhei para partidos. Olhei para os candidatos. De um lado, Haddad, com um um currículo admirável e, de outro, Bolsonaro, sem um plano de governo e uma visão retrógrada, agressiva e intolerante. Um homem asqueroso, sem a menor competência para governar um país.

O  que parecia impossível aconteceu: Bolsonaro foi eleito

Eis que o que parecia impossível aconteceu: ele foi eleito. Me lembro que, enquanto as apurações eram feitas, eu chorava sozinha em meu quarto, escrevendo sobre tudo isso. O texto está no meu blog até hoje e eu não mudaria uma vírgula do que escrevi naquele dia.

Eu me lembro que o ódio entre as pessoas começou antes mesmo dele ser eleito, durante a campanha. No dia em que se elegeu, o clima era de uma rivalidade pior do que futebol, pessoas zombando e ofendendo umas às outras com um fanatismo assustador.

Nunca, em nenhuma outra eleição que presenciei entre PT e PSDB, houve tanto ódio como as duas últimas que tivemos. Qualquer um pode refletir sobre como era antes e comparar.

O pesadelo de quatro anos

A partir daí, dia a dia, o que vivenciamos foi um pesadelo na vida real. O ódio se tornando banalizado, as mentiras se tornando verdades de tanto serem repetidas, a intolerância religiosa crescendo, o preconceito se tornando “aceitável”. Afinal, o exemplo sempre vem de cima. Inconscientemente, é aquela coisa: “Se até o presidente pensa assim, que mal tem?”

A verdade é que Bolsonaro não trouxe a homofobia, o racismo, a misoginia, a xenofobia. Isso sempre existiu – ainda que muitas vezes camuflado – e todo mundo sabe. Acontece que tudo isso ficou mais escancarado – e potencializado – quando o país elegeu um homem que promove isso tudo abertamente. Se você tem dúvida sobre o impacto que isso teve, pesquise sobre como cresceram os números de sites e episódios neonazistas sob o governo Bolsonaro ou sobre a consequência do racismo promovido pelo presidente ou o aumento dos discursos racistas entre autoridades públicas.  

No meio disso tudo, ainda tivemos uma pandemia grave, um cenário nunca imaginado por nenhum de nós. E a morte também se tornou banalizada. Vidas perdidas se tornaram apenas um número, especialmente quando o próprio presidente reduzia o peso do vírus e debochava de tudo o que estava acontecendo, sem o menor respeito pelos familiares das vítimas.

Fora o atraso na compra de vacinas, o incentivo a medicamentos sem comprovação científica, a negação da Ciência e tantas atrocidades que nem preciso relembrar aqui: estava tudo aí, noticiado e comprovado para quem quisesse ver.

Foi terrível, nesses quatro anos, assistir, pouco a pouco, o ódio sendo cada vez mais difundido, disfarçado em um discurso de “família tradicional”, o estratégico combo “Deus, Pátria e Família”, a demonização do PT, e a sementinha do medo do “comunismo”.

Usar o nome de Deus e misturar política com religião foi uma de suas armas mais cruéis. O que vimos nas igrejas evangélicas, com pastores coagindo os cristãos a votarem nele, foi insano.

Dando força a isso tudo, as fake news circulando com força total no WhatsApp. Vimos um “mito” nascer, e as pessoas fechando os olhos para todas as suas barbáries, negando os fatos, e até minimizando: “ah, é que ele não sabe falar, fala muita merda mesmo.”

Nunca foi tão fácil escolher o meu lado

Com todos os erros do governo do PT, ciente de que ele está longe de ser perfeito e cometeu, sim, corrupção, eu tive que olhar para outras evidências: uma condenação sem provas, em uma sentença por ‘atos indeterminados’.

Comecei a entender todos os interesses que estavam por trás da prisão de um homem como Lula. E todo o sistema que se favorece com a eleição de um homem como Bolsonaro. E se tem uma coisa que é inegável, é que todo mundo já ouviu alguma história ou conhece alguém que teve a vida melhorada durante o governo do PT. Não reconhecer isso é negar os fatos.

Então, para mim foi fácil concluir que não, eu não quero um país com mais armas. Eu não quero um presidente que fale de liberdade, quando liberdade só existe para quem pensa igual a ele. Eu não quero um presidente que acha que mulheres, negros, gays, pobres e indígenas são inferiores. Eu não quero um presidente que diz que “combate a corrupção” impedindo que ela seja investigada, achando que a população é estúpida, quando cortes claros foram feitos em diversas áreas importantes para sustentar o tal do “orçamento secreto.”

Eu não quero um presidente que cria embates com outros poderes, desacredita o processo eleitoral e ameaça a democracia. Eu não quero um presidente que está pouco se importando com o planeta, e favorece o fim da Amazônia extraindo o máximo de $ dela. Eu não quero um presidente que não se importa com a desigualdade social, e que só pensa no povo quando precisa de seus votos. Um presidente que acredita que “universidade tem que ser para poucos”, como disse seu Ministro da Educação.

Pela diversidade, pelo amor, pela evolução.

Para mim, essa eleição NUNCA foi entre dois candidatos. Foi uma eleição sobre valores, sobre humanidade, sobre princípios. Por isso, eu nunca tive dúvida.

Nunca precisei pensar nem por UM segundo. Para mim, antes de ser presidente, o critério base é ser HUMANO. Afinal, para governar um país composto de PESSOAS, esse deveria ser o mínimo, não?

Nosso país é lindo, é diverso, é rico. E é justamente essa diversidade – de culturas, biológica, étnica, linguística, religiosa – que faz ele tão especial. A diversidade é resultante da MISTURA de povos. Então é completamente fascista promover a SEPARAÇÃO e determinar quais grupos devem ser aceitos. É completamente fascista dizer que “as minorias devem se adaptar e se curvar à maioria.”

Dizer que um grupo é superior a outro não é nada diferente do que Hitler fez quando difundiu a ideologia da “superioridade da raça ariana”, exterminando milhões de Judeus. O mundo está evoluindo, tantas lutas, de tantas causas, foram necessárias para chegarmos onde chegamos, e eleger um homem como Bolsonaro seria jogar tudo isso no LIXO.

Então, sim, eu tenho ORGULHO do lado que defendi nessas eleições. E esse post é para eu lembrar um dia, quando tudo isso estiver escrito nos livros de história. Não combatemos um candidato, combatemos o ódio e o retrocesso.

A luta está só começando

Tenho receios? Claro. Afinal, 49% dos brasileiros votaram nele e o bolsonarismo já se tornou maior do que o próprio Bolsonaro. Mas também creio, do fundo do coração, que a maioria esmagadora dessas pessoas foram usadas de má fé pela “máquina brasileira”, como disse Lula em seu discurso.

Também me preocupo com as dificuldades que Lula irá encontrar para governar com uma oposição forte em diversos estados. O fato é que a luta está só começando. E que fique claro: assim como qualquer outro presidente, todos iremos (e devemos) cobrá-lo e criticá-lo. Não existe messias aqui. Não é sobre idolatrar ou defender acima de tudo, como vimos nos últimos quatro anos.

Agora, dando literalmente um voto de confiança a um homem que já fez muito pelo Brasil, estaremos mais atentos que nunca.

E enquanto metade do Brasil solta o grito entalado com o fim do pesadelo, ficamos com o silêncio ensudercedor de nosso presidente, atestando, uma vez mais, sua pequenez. É preciso ser grande para saber perder.

2 respostas

  1. Pelo amor de Deus, como faço pra curtir mil vezes? Te falei no Zap, no LinkedIn e agora aqui: esse texto me representa demais. Sinto uma força enorme vinda de ti ao escrevê-lo. Inacreditável tudo que vivemos nos últimos quatro anos. Obrigada por esse registro tão lúcido. ❤️

    1. Ah, maravilhosa!! Honra demais ter seu comentário e apoio aqui! ❤️ Roteirista nenhum no mundo conseguiria escrever um filme tão horrendo como o que vivemos nesses últimos 4 anos, né? Mas a esperança entrou em cena! Seguimos!

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