Em busca do ontem

Você pode voltar a Paris, porque deu saudade. Pode voltar para casa depois de um dia cansativo, pode voltar à sua cidade natal só para viver um momento nostálgico. Pode voltar a um restaurante, porque curtiu o tempero ou o modo como foi atendido. Só não se pode voltar ao ontem. O ontem é página virada. É assunto encerrado. É o tempo dissolvido em meras lembranças.

O ontem é a palavra grosseira que saiu na hora da raiva, por impulso. É a palavra amorosa que não saiu por orgulho, afinal você imaginava que teria outras chances de proferi-la. É a quantidade de dias que você perdeu não estando ao lado de quem ama por soberba, por medo de dar o braço a torcer, e dizer: “Ei, você me faz falta”.

O ontem é a mentira, a chance de dizer a verdade, que foi perdida. É o perdão negado. É o descaso, é uma amizade que perdemos sem perceber. É a juventude que se foi tão rapidamente. É a atitude reprimida. É a coragem que você se esqueceu de usar, quando mais precisou.

É o beijo dado sem ênfase. É o sorriso guardado. É a traição cometida. É a fidelidade ferida e o respeito invalidado. Não há volta. É a história construída em anos e destruída em instantes.

O ontem fica logo ali, há um segundo, quando você leu o parágrafo de cima. Mas é irreversível. Não retornável. Não é possível pegar o próximo táxi e dizer: “Por favor, me leve no ano de 2006, mais especificamente no dia 25 de setembro, tenho uns assuntos pendentes por lá”. Não. O único local que está ao nosso alcance é o HOJE. E é nele que temos a chance de fazer o novo, de novo, e melhor.

Apesar de não existir uma borracha que apague as cicatrizes do ontem, o AQUI e o AGORA é a única chance que nos resta de não repetir os erros do passado. Valorizar mais, demonstrar mais, ser mais leal, mais ousado, menos covarde, mais humilde, menos orgulhoso.

Faça o que tiver que fazer, mas faça agora, pois, até onde eu sei, ainda não inventaram a máquina do tempo.

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