Escrevendo sobre o fim inevitável

Eu tentei evitar falar sobre isso, aliás, sigo todos os dias da minha vida tentando não pensar nisso.  E eu tentei adiar esse momento, mas eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu teria que me sentar e escrever sobre isso.  Isso que eu não gosto nem de citar o nome. Tá, pode parecer superstição ou sei-lá-o-quê, mas eu não gosto de falar o nome e pretendo ir até o fim desse texto sem sequer citar o objeto dele.

Isso que não aconteceu comigo ainda, mas vai acontecer. Não aconteceu com você que está lendo essa crônica nesse instante, mas vai acontecer, cedo ou tarde. Talvez você não tenha tempo nem de chegar ao fim desta crônica, mas talvez você tenha tempo não só de ler essa crônica, mas também de ir estudar amanhã, depois e depois até pegar seu diploma em direito, casar-se com seu futuro marido que você vai conhecer no tribunal, ter uma carreira reconhecida e mega estabilizada e, claro, muitos filhos de dar orgulho. Enfim. Cedo ou tarde, não importa quando, um dia isso vai acontecer com você e com todos. Mas o fato é: nunca estamos preparados para isso.

Já sabe do que estou falando, né? É bom que saiba, pois não posso ser mais literal que isso.  Parece ironia eu falar disso justo agora, logo em seguida da última crônica que postei aqui, em que o assunto era a celebração da vida, da existência. Sim, a vida é linda e é justo que se façam milhares de histórias, textos, crônicas, versos, poesias e sonetos sobre ela. Mas o fim da vida – que não manda cartão postal anunciando sua chegada – também deve ser retratado, afinal, ele é totalmente intrínseco a nossa vida.

Dizem que morrer faz parte da vida. Ninguém aceita, mas faz. A vida tem suas milhares de fases e a morte é apenas uma delas. Pronto. Parece frio e seco dito assim, à grosso modo, eu sei. Como se isso fosse óbvio e incontestável, mas não é. Não é simples assim e eu ainda não consigo aceitar a morte, justamente eu, que tenho essa mania de querer que tudo seja para sempre.

Acho muito fácil algumas pessoas falarem que a morte faz parte da vida e que devemos aceitá-la a todo custo. ‘Aceitar’ não sei bem se é a palavra, acho que caberia  mais ‘suportar’, ‘tolerar’. Não entra na minha cabeça que devo aceitar tranquilamente que nunca mais verei meu irmão caçula que eu tanto amo. O que eu entendo é que não tenho escolha, não me restam opções. O mundo não acabou como eu achei que acabaria e, dessa forma, sigo vivendo sem ele. Aceitando? Jamais. Mas seguindo como alguém que é incompleto. Mas, afinal, quem é completo nessa vida? Todo mundo sente falta de algo. Uns de pessoas, outros de coisas, outros de sentimentos, outros de status. E todos vão vivendo assim, nessa busca incessante de suprir a falta de algo.

Antes de simplesmente nos falarem que a morte faz parte da vida deveriam implantar esse ensinamento nas escolas então, desde o princípio, lá no maternal, sabe? Para que cresçamos com a consciência natural de que, no meio do percurso da vida, algumas pessoas nos serão tomadas e que não devemos irracionalmente querer apertar o stop e parar de viver também. Por outro lado, pensando bem, se a morte fosse tratada das escolas comumente, tenho certo receio de que tanta naturalidade a banalizaria. Ou seja, as pessoas poderiam até sofrer menos com as perdas, mas também seriam mais frias e, talvez, insensíveis. Sei lá, acho arriscado.

E a esta altura, você já deve ter reparado que, ao contrário do que prometi no início, acabei soltando a palavra que resume essa crônica: A morte. É, vamos repetir: a morte. Quem sabe assim fica mais fácil aceitar essa cruel que só nos condena a tristeza e a saudade. Sei que não é um assunto legal para se ler, me perdoe. A morte ainda é tabu e ler uma crônica sobre ela não anima o dia de ninguém. Mas, assim como eu disse no texto anterior que envelhecer é viver, morrer também é viver, afinal, para morrer, é preciso, antes, estar vivo.

 

Por Renata Stuart

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