O medo do julgamento

Você já parou pra pensar em quanta coisa a gente deixa de fazer por medo do julgamento? Em uma busca por aceitação ou por medo da rejeição, guardamos a nossa autenticidade na gaveta e optamos por agradar, ao invés de correr o risco de desagradar. 

Começar a produzir conteúdo na internet, por exemplo, é algo que eu adiei por muito tempo justamente pelo medo do que iriam pensar ou dizer. Como meus conhecidos e amigos próximos não faziam isso, eu me sentia diferente por ter essa vontade.

O que eu fiz? Aos poucos, fui adormecendo minha paixão pela escrita e deixando de lado esse detalhe da minha essência para me encaixar no grupo de pessoas com as quais eu convivia. Até porque trabalhar com escrita me parecia algo muito sonhador para um mundo tão racional.

 

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Então, se você sente que o medo do julgamento também te bloqueia de alguma forma, saiba que eu já estive no seu lugar. Por isso, neste artigo, compartilho todos os aprendizados que me ajudaram a enfrentar esse medo e espero, de verdade, que eles também te ajudem.

A busca para se encaixar: tudo começa na infância

Acredito que essa necessidade de se encaixar comece a ser construída logo na infância, ainda que de maneira sutil, quando somos ensinados sobre o que deve e o que não deve ser feito.

Enquanto estamos simplesmente sendo nós mesmos e deixando a imaginação fluir, nossa liberdade e criatividade vão sendo, pouco a pouco, bloqueadas por frases no imperativo como:

“Não faça isso!” 

“Não tire as cadeiras do lugar!”

Aos poucos, descobrimos que não podemos ser tão espontâneos assim e entendemos o que pode e não pode ser feito. Ou pelo menos o que esperam que a gente faça.

É claro que correções são fundamentais para ensinar e impor limites à criança. Mas o fato é: será que reprimir toda e qualquer ação inusitada da criança não acaba, pouco a pouco, podando também a sua liberdade de ser quem ela é?

Qual o problema se Joãozinho, de 5 anos, quer deitar as cadeiras da sala no chão e fingir que elas são um grande ônibus? Por que não deixar ele simplesmente dar asas à sua imaginação?

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Então vamos crescendo e chegamos à adolescência, fase em que o medo do ridículo se torna quase que diário. Ninguém quer ser alvo de piadas, ironias e chacotas e, justamente por esse receio de se sentir inadequado e rejeitado, moldamos nosso comportamento para nos proteger.

Somos ensinados a não correr riscos

Aliás, proteção é uma coisa que logo aprendemos o quanto é importante, não é mesmo?

“Não vá por esse caminho, é arriscado”

“Isso é loucura. Vá pelo caminho seguro que tem menos chances de dar errado.” 

Quem nunca ouviu frases desse tipo? Seja na escola, em casa, ou no mercado de trabalho, somos ensinados a seguir o percurso conhecido, certeiro e mais óbvio. Desta forma, vamos todos nos padronizando e nos apertando para caber em caixinhas, fugindo do ridículo, dos riscos e, é claro, das falhas.

Acontece que, quem não estiver disposto a fracassar, também não irá inovar. E quem não estiver disposto a tentar e se jogar na água, não irá saber o que é que tem do outro lado do rio. 

E se alguém faz algo muito diferente do que aprendemos como “certo” e “errado”, o que nós fazemos? Inconscientemente ou não, reproduzimos o péssimo hábito de julgar. E é aí que vamos para a próxima constatação.

Só tememos o julgamento porque também julgamos

Sim, a verdade dolorosa é que só tememos o julgamento porque também julgamos. A nós mesmos e aos outros. E enquanto tivermos a péssima mania de julgar, de rotular o que é certo e errado, bom e ruim, teremos receio de sermos julgados também.

E o medo de ser julgado paralisa. O medo de fracassar congela. E então seguimos no caminho morno, que é o caminho seguro, por temermos a temperatura da água quente.

Mas, muitas vezes, a transformação que você precisa está no risco que você não corre. No mergulho que você não dá, pelo simples medo de se queimar, de se afogar, de se ridicularizar.

Então como cortar esse terrível hábito de julgar?

Fácil não é, mas acredito que o exercício precisa ser diário. E começa no ato de enxergar as escolhas, aspectos e desejos do outro como neutros, isto é, nuances diferentes. Aliás, são exatamente esses contrastes que dão graça a nossa existência, não é? Seria, no mínimo, entediante se todos fôssemos tão iguais. 

Então faça o teste. Desperte um observador em si mesmo(a) e vá reduzindo, pouco a pouco, o julgamento nas pequenas atitudes. Mesmo aqueles comentários disfarçados de opinião, sabe?

À medida que você quebra esse padrão, ou pelo menos reduz sua frequência, a preocupação com o que vão falar ou pensar sobre você vai naturalmente se esvaindo.

Certa vez, vi uma psicóloga falando algo sobre esse tema que estourou meus miolos ainda mais. Segundo ela, na maioria das vezes, nós não temos acesso ao julgamento dos outros sobre nós. Tememos sempre por aquilo que achamos que eles poderão dizer ou pensar.

Se não temos acesso, e nem temos certeza se de fato falam sobre nós, por que temos medo?

Porque, na verdade, nós é quem estamos julgando a nós mesmos. 

 

E, por isso, acreditamos que os outros irão agir da mesma maneira. 

Eu mesma, antes de começar a produzir conteúdo por aqui, ficava com receio do que as pessoas iriam dizer. Já me peguei pensando: “quem é você para achar que pode ajudar alguém com suas palavras?! As pessoas vão tirar sarro de você!” “Vão te rotular de blogueirinha e dizer que você quer aparecer!”.

Ou seja, eu é quem estava me julgando. Se eu achava que elas pensariam assim, é porque isso, de alguma forma, estava em mim.

Aliás, outro aprendizado libertador que tive e que me ajuda a não sofrer tanto com o julgamento alheio é o de que todo julgamento é carregado de histórias, experiências e vivências pessoais, o que nos leva a próxima constatação.

Todo julgamento é uma confissão

Tem uma frase do Talmude, o livro sagrado dos judeus, que diz o seguinte:

“Nós não vemos as coisas como elas sãomas como nós somos.”

O que isso quer dizer? Quando o outro te aponta o dedo, aquilo diz mais respeito a algo que existe nele do que em você. Quando você julga a forma como uma pessoa se veste, por exemplo, vale se questionar: por que isso me incomoda? Será que eu gostaria de ter a mesma coragem de me vestir como bem entender, sem me preocupar com a opinião alheia?

Desta forma, a gente passa a entender que o que o outro diz sobre nós, não nos define, mas reflete apenas o que ele carrega dentro de si mesmo. A boa parte é que esse ensinamento é válido para elogios também. Quando uma pessoa vê algo bom em você, ela só consegue identificar aquilo que também existe dentro dela.

Assim, ao ser julgado por alguém, você passa a entender que o que o outro diz sobre você é, muitas vezes, apenas uma projeção.

Na psicologia, projeção é um mecanismo de defesa no qual os atributos pessoais de determinado indivíduo, sejam pensamentos inaceitáveis ou indesejados, sejam emoções de qualquer espécie, são atribuídos a outra pessoa.

Portanto, a dica aqui é: aprenda a diferenciar o que é seu e o que é do outro. 

 

Leia também: O autoconhecimento é um caminho de volta pra casa

Caminho da proteção X Caminho do coração

Um dos maiores prejuízos de toda essa busca por proteção, para mim, é que ao tentar encaixar, fugir dos riscos e evitar a rejeição, nós nos afastamos não só de quem somos, mas também dos reais desejos do nosso coração.

Para a citação acima, eu me inspirei em uma frase que o Murilo Gun, do qual eu sou grande fã, disse em um de seus cursos:

“Na vida, podemos percorrer o caminho do amor e o caminho do medo. O caminho do amor te aproxima do que você quer. É aquele em que você vai em busca do que você quer. O caminho do medo é o que te distancia do que você não quer. Não é uma busca, é só uma proteção.” – Murilo Gun

 

Aqui, fica uma pergunta: o que tem te movido? O amor ou o medo? 

Observando a etimologia da palavra CORAGEM, já temos uma sugestão sobre qual rota seguir. Do latim, COR significa coração e AGEM vem de AÇÃO. Ter coragem, portanto, é seguir o caminho do amor, o caminho do que nos move, do que vibra dentro de nós. Não o do medo.

No meu caso, me reconectar com a escrita – algo que eu sempre amei desde pequena – e começar a publicar conteúdo por aqui foi como vestir a capa da coragem e ir com medo mesmo.

O medo ainda existe e eu o engulo a cada vez que publico um conteúdo. A diferença é que eu não deixo ele me paralisar mais. Não deixo ele me afastar da escrita, pois dessa forma sei que estaria me afastando de mim mesma e do que realmente quero: escrever e expressar a minha verdade para o mundo.

 

No fim das contas, o que mais vale é a sua autopercepção

Se você, assim como eu, está disposto a seguir o caminho do coração e ser cada vez mais livre para ser quem você é, a minha dica é: dê menos importância ao julgamento do outro. A pior parte do julgamento é o poder que damos para ele.

Uma coisa é fato: ele sempre vai existir. Sempre terá alguém para apontar o dedo para você. Nós não temos o menor controle sobre o que o outro pensa sobre nós.

O que realmente importa, então, é o que VOCÊ pensa sobre si mesmo. 

Então não condene quem te julga. Não sofra por não ser compreendido(a). Condene a si mesmo(a), por se importar e por precisar da validação do outro. Condene-se por duvidar de si ou por concordar com o que o outro fala sobre você.

Ser vulnerável tem um preço. Mas se proteger também tem. Nada é de graça. A gente é que escolhe a conta que quer pagar.

Então decida: o que te dói mais: não agradar ou não ser você? 

 

Por Renata Stuart

 

2 respostas

  1. Maravilhoso texto, muito bom saber que o medo não te paralisa e que você continue contribuindo cada vez mais com suas escritas que podem ajudar muito as pessoas 👏👏👏👏parabéns, muito orgulho de você se tornado minha escritora favorita ❤️❤️

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