“Publico, logo existo?”

Dedos que correm para o aplicativo por conta própria. Vejo um vídeo de 15 segundos chato, passo para o próximo. Vejo um vídeo legal, mas logo me esqueço porque tem outro a seguir. E outro e outro. Na rua, cabeças baixas caminhando pelo mundo de olho na tela. Nos restaurantes, o silêncio gritante de casais, amigos e famílias “conectados” revela a profunda desconexão.

Perdidos na linha tênue entre o que somos e a imagem que queremos que tenham de nós, seguimos em busca da próxima dopamina. Às vezes buscando uma compensação pelo tédio, exaustão ou falta de sentido, às vezes validação externa e um senso de identidade e tantas vezes apenas fugindo de sentir.

Se a forma como nos colocamos no mundo constrói uma narrativa, conscientes ou não, quando editamos a nossa vida e escolhemos o que mostrar, qual é a narrativa que estamos sustentando?

Mergulhamos tanto neste multiverso a ponto de acreditar na perfeição alheia, que esquecemos que o outro, por trás de seu avatar, é só mais um ser cheio de defeitos, problemas e questões, também recortando e lapidando a parte que deseja compartilhar.

E assim vamos, em meio às ilusões virtuais, colecionando comparações desleais. Em meio aos filtros, perseguindo padrões de beleza irreais. No amontoado de estímulos, carregando a sensação de que deveríamos estar fazendo mais.

E nesse ciclo vicioso da conexão excessiva que nos desconecta de nós mesmos, imersos nesse mundo em que parecer vale mais do que ser, nossa energia acaba indo pelo ralo. Quem nunca se sentiu exausto após 40 minutos de rolagem?

É claro que a rede social nos traz ganhos, mas por que não tratamos com mais seriedade as perdas?

O quanto deixo de pensar por mim mesma quando estou simplemente deixando que os conteúdos ocupem minha mente?

Quantas autoobservações, inspirações e potenciais são desperdiçados? Quantas sutilezas deixo de enxergar quando meus olhos estão fixos na tela?

E enquanto o algoritmo dita o ritmo, o quanto de liberdade de criativa não anulamos na tentativa de caber nos moldes e formatos que são ditados?

É lindo, sim, a gente poder se conectar com pessoas que veem o mundo da mesma forma que a gente. É lindo a gente formar comunidade. É lindo ver pessoas criando um formato de trabalho digital e prosperando. É lindo a gente compartilhar um momento feliz, um aprendizado, uma boa ideia.

Mas é lindo também a gente não se esquecer de como é valioso viver um momento com total presença e entrega ao agora, sem ter que ir correndo avisar ao mundo. É lindo a gente fazer uma foto imperfeita e dar risadas dela. É lindo a gente ser capaz de escutar as pessoas com atenção, por bem mais de 1 minuto e meio, sem a pressa de fazer outra coisa ou sem estar perdido entre notificações.

Acho incrível poder utilizar o instagram como um espaço para me expressar e encontrar pessoas que ressoam comigo ou que me inspiram de alguma forma, e o compartilhar faz parte do que enxergo como meu propósito. Mas ainda que eu não seja imune às armadilhas do ego e nem aos danos mentais que essa rede pode me causar, sei que posso escolher estar mais consciente.

Definitivamente, não quero ser uma zumbiinstagramer que não sabe viver sem o telefone na mão. Não quero perder as inspirações que só surgem quando estou realmente presente. Não quero me perder do que sou quando ninguém está vendo, e nem me forçar a seguir um ritmo de criação de conteúdo que claramente não é o meu. 

Tenho respirado mais “ar livre”, fora do digital, e tem me feito um bem danado. Minha estratégia tem sido a seguinte: instalo o aplicativo quando quero postar algo ou quando me permito usar por um tempo determinado, e depois desinstalo de novo. O processo leva cerca de dois minutos, e com isso meu tempo de uso reduziu muito.

Me sinto mais inspirada, menos ansiosa e aproveitando melhor meus dias. Embora seja difícil manter esse equilíbrio constantemente, persisto na busca por ele.
“Viver primeiro, postar depois” é um lema que estou dedicada a seguir.

Não sei como tem sido a sua relação com a rede, mas espero que você também faça esse gesto de cuidado consigo mesmo(a) e, vez ou outra, “abra a janela”. Experimente deixar o celular de lado quando possível, desinstale o aplicativo de vez em quando, esqueça de postar em alguns momentos.

Talvez seja a hora de resgatarmos quem fomos um dia, quando a internet não era protagonista da nossa vida, mas apenas uma parte dela.

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