Tenho que confessar. Hoje, depois de anos ao seu lado, descobri que não sou mais apaixonada por você. Me dei conta disso em uma conversa descontraída com meu primo. Eu, intrusa como sou, perguntava como andava o namoro dele, se ele estava apaixonado pela moça e tudo mais. Ele, de forma crua e objetiva, disse: “Apaixonado não, acho esse sentimento muito forte para definir o que sinto”. Eu, boquiaberta, questionei: “Mas como você namora alguém sem estar apaixonado?” E ele, curiosamente me retrucou perguntando se eu era apaixonada por você. Fui pega de surpresa. Dei uma pausa meio pensativa – pausa que nem eu mesma entendi – e soltei: Já fui.
Acho que a paixão surge inevitavelmente no início de um relacionamento a dois. Quando a relação ainda é 0km, repleta de expectativas e novidades. Quando a gente não sabe o que o futuro nos reserva mas, ainda assim, quer se entregar e correr todos os riscos. Quando a emoção fala mais alto, sempre. Paixão pressupõe loucura, insensatez, patologia, irracionalidade.
E ela chega sozinha, despretensiosa, inocente, sem juízo, nem sequer imagina que pode vir a se tornar amor. Com um tempo, a casa vai ficando familiar, o cantinho se aquece, as coisas se ajeitam, se assumem e se revelam. O amor chegou. Até certo tempo, a paixão e o amor até caminham de mãos dadas, construindo cada pedaço da história, intercalando e equilibrando a intensidade da paixão com a calmaria do amor. E assim vai. Até que o tempo passa e chega a hora de cada um seguir seu rumo. A paixão faz as malas e o amor fica.
O amor é mais sensato. Seguro, estável, mais inteiro, mais concreto. Amor pressupõe reserva, promessa. Cada um já tem um lugar reservado dentro do coração do outro e ponto. Não há segredos, não há mistérios. Todas as perguntas já foram respondidas. Não há conquista, não há sedução, todos os sentimentos já foram declarados. Não há mais fantasia, nem ilusão, pelo contrário. Há uma boa dose de realidade, de rotinas, de obstáculos, de aprendizado, de paciência e de maturidade.
Em resumo, é o que dizem: a diferença entre estar apaixonado e amar é a mesma diferença entre por enquanto e para sempre. Não que o amor seja sempre eterno – sou romântica, mas também realista – às vezes o amor se vai, e os motivos – inúmeros e complexos – nem me atrevo a tentar listá-los. Mas o que eu quero dizer é simples: é preciso encarar que amor e paixão fazem parte de fases diferentes, podem até coexistir em certos momentos isolados – aliás, isso é fundamental – mas um deles sempre vai prevalecer. E acredite, com o passar do tempo, o amor prevalece.
Portanto, não fique triste. Eu disse que não sou mais apaixonada por você. Mas, psiu: ainda te amo.
Por Renata Stuart
14 respostas
Oi Renatinha
Nossa que lindo! Eu já te disse isso e repito, vc escreve muito bem menina, deveria se inscrever para o bloinquês, fala com a Valquiria, amei o texto, sinceramente, falou com propriedade, porque eu sei o que é paixão e o que é amor é justamente isso que vc descreveu. Parabéns!
Bjão querida.
Lindo texto! Felizes daqueles que sabem ultrapassar a paixão e se aquietar no amor.
Beijos e que o seu amor seja eterno “enquanto dure”!
Ei, Camila. Seja bem-vinda!
Que bom que gostou e concordo com vc, é uma questão de superar a ausência da paixão e aceitar a quietude do amor, que, cá pra nós, tem seu valor.
🙂
Volte sempre!
Oi Re,
Excelente texto!Penso que esse limite da paixão é tênue e nem sempre conseguimos entender quando um se vai e outro fica ou mesmo quando os dois se vão.
Beijos.
Lu
Ei, Luciana
Obrigada 🙂
Realmente é difícil saber quando um termina e o outro fica, tudo é muito relativo!
Mas eu fui um pouco atrevida em delimitar isso..rsrs mas realmente é como eu sinto..
Beijão
Ola Renata,
Estar apaixonado creio que é um sentimento muito forte e que precisa, como o seu texto falou muito bem, ser repensado, pois simplesmente acontece que da mesma forma que veio some com o término das expectativas, isso não implica no fim do amor que é uma coisa mais sóbria.
Adorei.
Abraços Flávio.
–> Blog Telinha Crítica <–
Ei, Flávio! É exatamente isso que tentei retratar, que bom que você captou exatamente…o fim dessa fase de “borboletas no estômago” não significa o fim do amor, mas apenas a paixão fazendo as malas. =)
Obrigada pela visita!
abraços
Lúú, sempre me derreto com seus comentários. É tão bom saber que você gostou e, melhor, se identificou.
Uai, quero me inscrever sim! Fico honrada por você achar que mereço.
É a Valquíria Paula? Vou falar com ela, valeu pela dica =)
Beijão e tenha uma semana maravilhosa!
Ah neim, meu comentário foi pro brejo! “Error”… Odeio quando o blog faz isso.
Resumindo: Eu achei o seu texto muito bom, com uma prosa descompromissada você traçou grandes verdades.
Eu sempre digo que a paixão é menina moça e o amor mulher madura. A paixão descobre, fuxica, desbrava e o amor cuida, protege e aceita.
Eu creio que deveria dizer a ele “Agora te amo” no lugar de ainda, pois o amor é uma extensão da paixão.
Nem sempre o amor vinga, as vezes ele morre embrião junto com a mãe paixão.
Lindo Rê.
Beijokas doces e obrigada pela visita.
Penso que amor pode mesmo não ser eterno… sou realista quando à isso, tbem! Mas, por experiência própria, acredito que ele pode perdurar, só depende do que fazemos para que isso aconteça, Re! Querendo ou não, deve ser um exercício diário.
Grande beijo…
Ei, Joicy! Concordo plenamente, manter a paixão viva é um exercício diário. Mas penso que é preciso aceitar que a paixão inicial, inconsequente e irracional, é exclusividade de um romance em fase inicial..E depois, a paixão é presente apenas em momentos específicos, e não o tempo todo, pois o amor passa a prevalecer 🙂
Obrigada pela visita, queridaaa!
Que gostoso ler seu texto, Re!!! Bem leve e verdadeiro, adoro isso.
Às vezes fico pensando se já amei alguém ou se apenas me apaixonei, difícil saber ao certo, porque como você disse, nem o amor é sempre eterno. E depois que a paixão vira amor, será que a gente consegue se apaixonar de novo pela mesma pessoa? Acho que isso depende de pequenos gestos no dia-a-dia, salpicar o amor com pitadas de paixão, o que acha? =D
Gata, obrigada pela sua visita e coment lá no Apenas Palavras, seja sempre muito bem vinda. Bjus, querida. Fica com Deus, e até a próxima.
Ei, Valquíria. Seja bem-vinda! Obrigada, que bom que gostou!!!
Isso que você disse, sobre os pequenos gestos do dia-a-dia, é exatamente o que eu quis dizer quando cito que amor e paixão coexistem às vezes, são momentos isolados, relapsos, gestos de paixão. É preciso inovar um relacionamento para que ele tenha a paixão sempre viva. Mas a paixão primária, que surge no começo de um relacionamento, penso que não volta na mesma pessoa, tamanha intensidade só pode ser vivida em um novo romance, o que faz muitos casais buscarem isso em outros e em outros…, ao invés de aceitarem que isso faz parte da vida e se aquietarem na calmaria do amor!
=)
Beijos e volte sempre! Com certeza, estarei sempre no Apenas Palavras.
Adorei tudo no texto! Leitura doce!rs Ficando cada vez mais apaixonada pelos seus textos. Parabéns.