Vivendo, errando e aprendendo

No instante em que me sentei para tentar escrever algo, me veio a mente esse refrão da música “Nada Sei”, da banda Kid Abelha. Resolvo escutá-la novamente e eis que mudo completamente o tema deste artigo.

Na minha adolescência, essa canção era uma daquelas que tocavam em modo repeat na minha playlist. No meu clipe de 15 anos – sim, eu tenho um clipe de debutante (rs)- , ela foi inclusive trilha sonora.

De fato, naquela época, eu pouco sabia sobre a vida. Não que hoje eu saiba muito, mas naquela época, menos ainda. Afinal, eu havia vivido metade do que já vivi hoje.

De qualquer maneira, a simples constatação “Nada sei” fazia muito sentido para mim. A música traduzia um pouco do que eu sentia em relação à vida, mas não conseguia colocar em palavras.

Se você está a fim de viver essa nostalgia comigo, dá o play: 

Engraçado que, ao escutar essa música hoje, consigo me teletransportar para a Renata adolescente, cheia de perguntas, anseios e uma busca latente em descobrir que diabos eu vim fazer aqui, nessa experiência chamada vida. Além de uma vontade imensa de cair na estrada e explorar o mundo.

A Renata de hoje? Continua igual! Mas, ao prestar atenção na letra, tentando entender por que ela mexia tanto comigo, encontro quase que uma confirmação de que a minha essência permaneceu a mesma nesses últimos 15 anos.

Nada sei dessa vida

Vivo sem saber

Nunca soube, nada saberei

Sigo sem saber

Se tem uma coisa que eu aprendi nesses 30 anos é que nunca vou parar de aprender. Aliás, acredito que, no dia em que eu parar de aprender, vou parar também de viver. Para mim, o real sentido da vida é a gente se desenvolver e ser melhor que ontem. E quem não está se desenvolvendo, chego a pensar que está apenas sobrevivendo.

Quando falo sobre aprender, não me refiro apenas a estudos e conhecimento técnico ou teórico. Não é apenas sobre isso, até porque devo confessar que a minha paixão por estudar mesmo só despertou na vida adulta, mais precisamente aos 27 anos. Antes disso, eu estudava somente o que era “necessário” e esperado de mim.

(…abre parênteses rapidinho…)

Na faculdade, eu me dedicava ao máximo para obter boas notas e provar a mim mesma que eu era boa. Mas não estudava por prazer ou por sede de aprender e me desenvolver.

Ainda inconsciente sobre quem eu era e quais eram meus valores, acho que eu simplesmente estudava porque entendia que notas excelentes e um destaque acadêmico fariam de mim alguém melhor. Doce ilusão!

 

Não que seja errado buscar boas notas, mas acredito que isso precisa ser a consequência e não a causa, sabe? O que nos faz uma pessoa melhor, na minha opinião, é quem nos tornamos no meio do caminho. Muito mais do que uma letra A ou um número 100, o que te faz evoluir é o que você de fato extraiu de todo o trajeto percorrido para atingir essas notas. 

(…fecha parênteses…)

 

Como eu estava dizendo, quando falo de aprender, é também sobre a escola da vida, sabe?

Todos os passos da minha jornada, até mesmo os mais simples, me ensinaram muito. Nada e nem ninguém passa pelo meu caminho sem me ensinar algo. E não estou romantizando a dor ou o sofrimento, mas meu lado questionador tenta sempre extrair alguma lição de tudo, mesmo que isso não ocorra naquele exato momento. Geralmente, o insight só vem algum tempo depois.

Nada sei desse mar

Nado sem saber

De seus peixes, suas perdas

De seu não respirar

 

Como a própria música diz, viver é como se jogar no mar sem saber nadar. Mas a gente nada assim mesmo. Chegamos aqui sem manual de instruções e vamos aprendendo a navegar, ainda que na marra. 

Quando olho para trás, consigo enxergar como as situações que vivi foram determinantes para minhas transformações pessoais. Algumas eu preferia não ter vivido? Claro! Mas seria errado não pontuar que, graças a elas, eu sei o que sei e sou quem sou hoje.

Seja a decepção com uma grande amiga, uma desilusão amorosa, uma experiência de vida, uma derrota profissional, um engano, um medo que foi enfrentado, um desafio superado, uma perda ou até mesmo a realização de um sonho. Cada capítulo da nossa vida esconde aprendizados que, se soubermos enxergar, nos fazem mais sábios e fortes.

Muitas vezes, essas vivências nos dão, inclusive, condições de ajudar outras pessoas que estão enfrentando situações semelhantes. E, para mim, só o fato de poder ajudar alguém já faz aquele aprendizado fazer sentido. Por mais clichê que seja, nossos erros (e os erros dos outros) são nossos professores.

O ‘APRENDER’ SÓ ENTRA ONDE EXISTE O “NÃO SABER”

E onde eu quero chegar com tudo isso?

Não sou nenhuma entendedora de filosofia, mas sei que, para os filósofos, a dúvida é o princípio de tudo. Ainda que Sócrates não tenha dito “Sei que nada sei” ao pé da letra – há rumores de que ele nunca disse essa frase literal – ele certamente falou sobre como a postura de “não saber” nos abre para o aprendizado. Aliás, Aristóteles também disse algo a respeito:

Uma coisa é fato: quando exercemos a humildade de simplesmente não saber é que liberamos espaço para novos saberes entrarem. Seja uma nova habilidade, um esporte ou um tema sobre o qual desconhecemos. Quando a gente se coloca na posição de aprendiz, iniciamos uma incrível jornada de aprendizado.

Então, dito tudo isso, gostaria de deixar três conselhos, relacionados a “não saber” e “aprender”, que tenho tentado adotar na minha vida e me ajudam muito.

1. Normalize o “Não sei”

Sabe quando uma pessoa comenta sobre algo e você fica sem graça de falar que não sabe do que se trata? Neste momento, ao fingir que sabe, você fecha a porta na cara do aprendizado. Você se priva da sabedoria e não expande a sua mente.

Precisamos normalizar o “não sei, me fale sobre isso?”. Afinal, ninguém tem a obrigação de saber tudo, especialmente no mundo de hoje, onde estamos todos com obesidade mental diante de tanta informação.

O mesmo serve para quando você falar sobre algo e a pessoa assumir que não está por dentro. Nada de agir com espanto ou desdém, dizendo: “como é possível você não saber disso?”. Estamos todos vivendo, correndo, aprendendo e fazendo o melhor que podemos. Se você sabe algo, contribua com o outro, mas não o deixe constrangido por isso.

2. Questione tudo o que você acha que sabe

Já percebeu como é difícil conversar com quem já tem uma opinião formada sobre tudo? Quem já acha que detém a sabedoria e a verdade não se abre ao novo. É caixa fechada, imutável, não há chance de transformação ou expansão ali.

Por mais que seja fundamental ter nossas próprias convicções e ideologias, acredito que é fundamental equilibrá-las com a dúvida. “Será mesmo que a minha visão é a única certa?” “Existem outros lados dessa história que eu não tenho conhecimento?”. “Há outros pontos de vista que eu não estou enxergando?”

Então, ao invés de ser aquela pessoa repleta de certezas, seja aquela que é movida pelas perguntas.

Muitas vezes, ao nos permitirmos o questionamento, vamos nos surpreender ao descobrir que existem, sim, outras “verdades” sobre um mesmo assunto. E tudo bem, afinal somos mais de 7 bilhões de pessoas no mundo e esperar que todos pensam igual é, no mínimo, utópico.

Em outros casos, ao fazer o exercício do questionamento, continuaremos convictos sobre a nossa verdade, mas ainda assim, o simples ato de tentar entender a perspectiva do outro nos agrega de alguma forma, seja para confirmar as convicções que defendemos ou apenas para se ter uma compreensão mais ampla do porquê do outro pensar tão diferente de você.

3. Extraia os aprendizados da sua jornada

Por fim, desperte o aprendiz que existe em você. Não deixe que as experiências vividas sejam em vão. Já que não temos controle de tudo que acontece com a gente, que saibamos ao menos extrair algo desses episódios. Dos mais banais aos mais complicados.

Troque a pergunta: “Por que isso está acontecendo comigo?” por “O que isso está tentando me ensinar?”.

E antes que rotulem esse conselho como positividade tóxica, devo ressaltar: não é fácil extrair aprendizados de momentos difíceis, eu sei. Falar é muito mais simples que fazer. No entanto, mesmo nesses desafios, me arrisco a dizer que será possível enxergar alguma lição quando a nuvem escura passar.

É claro que situações como essa que estamos vivendo no contexto coletivo, com a pandemia do coronavírus e todas suas consequências, não cabem aqui. Neste caso, não incluo os que perderam entes queridos e aos que estão passando fome. Acho que é quase impossível conseguir extrair algum aprendizado diante de tanta dor.

Mas para nós, privilegiados que seguem de quarentena e trabalhando seguros de casa, literalmente vendo o mundo ruir lá fora, acredito que é inevitável sair dessa pandemia sem pelo menos um aprendizado. Aliás, desconfio de quem não aprender nada com tudo isso.

Bom, para concluir esse artigo, recorro a mais um verso da música que o inspirou:

Vou errando enquanto o tempo

me deixar passar

Errando enquanto o tempo me deixar

Sim, na condição de humanos, continuaremos errando. Ainda que tentando acertar, certamente erraremos muito ainda. Afinal, a busca por perfeição é um fardo muito alto para se carregar. Além disso, quem não estiver disposto a fracassar, também não irá inovar. Então se sujeitar aos erros, na minha opinião, é uma premissa básica para uma vida interessante e que valha a pena ser vivida.

Portanto, enquanto o tempo nos deixar, isto é, enquanto vida tivermos, vamos seguir não sabendo sobre muita coisa e, é claro, errando. Mas seguiremos também crescendo, evoluindo e aprendendo.

Aliás, é para isso que estamos aqui. Concorda? 

 

Por Renata Stuart

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Gostou? Compartilhe!